Autores: Alexsandro Silva;
Caio Cesar*;
Eduardo Santos;
Robson Farias;
Tiago Elias*;
Wallace Silva;
Wesley Pereira.
Orientadores: Anderson Dias e Yuri Oliveira.
RESUMO
A população global está submersa em uma “sociedade de manchete”, onde tudo é tão facilmente repaginado e problemas são gerados impiedosamente. Este artigo tem como cerne principal, refletir as mazelas do processo constante conhecido como industrialização, que junto à globalização, vem ocasionando a construção de uma aldeia global no século XXI. Onde o consumismo disputa contra a sustentabilidade; Quando o hibridismo cultural apaga a última luminescência de uma cultura regional; Onde o campo rural pouco importa ao seu trabalhador, já que as máquinas tomaram conta do seu espaço e a mídia tanto o convoca para vir à cidade, urbanizada recentemente, ter uma vida mais favorável ao sucesso. Tornou-se irrefreável as contínuas mudanças comportamentais da população, a mesma que assiste aos impactos na natureza causados pelos seus próprios desejos, e, da mesma forma, sofre como protagonista da expansão da desigualdade social. Para entender o mundo atual como ele é, basta dedicar-se a compreender fatos históricos a respeito da “burguesia” dos séculos XVII e XVIII e substituir o termo destacado por “globalização”, onde os ricos que governam e os pobres vivem como podem.
Palavras-chave: Sociedade. Industrialização. Globalização.
ABSTRACT
The global population is submerged in a “headline society” where everything is so easily repaginated and problems are ruthlessly generated. This opinion article aims to reflect the ills of the constant process known as industrialization, which together with globalization, has led to the construction of a global village in the 21st century. Where consumerism vies for sustainability; when cultural hybridism erases the last luminescence of a regional culture; where the rural countryside matters little to its worker, as machines have taken over their space and the media both call upon them to come to the newly urbanized city to live a life more conducive to success. The continuous behavioral change of the population, which witnesses the impacts on nature caused by their own desires, have become unstoppable, and likewise suffers as a protagonist in the expansion of social inequality. To understand the present world as it is, one needs only to understand historical facts about the "bourgeoisie" of the seventeenth and eighteenth centuries and replace the term highlighted by "globalization", where the rich who govern and the poor live as they can.
Keywords: Society. Industrialization. Globalization
- Introdução
Este artigo procura reunir as mais diversas influências ocasionadas pelo avanço industrial atualmente. Visando apontar como essas influências, sendo elas boas ou más, injetadas na sociedade, podem trazer mudanças comportamentais notáveis a olho nu, elaboramos uma estrutura organizacional prática, cujo tema se subdivide, além da base introdutória e conclusiva, por quatro tópicos: O fenômeno “Aldeia Global”; Consumismo versus Consciência Sustentável; Hibridismo Cultural versus Preservação da Cultura Regional; Êxodo Rural e Desigualdade Social.
O trabalho tem como metodologia a revisão bibliográfica de autores como Karl Liebknecht, Maria Elisa Cevasco, Karl Marx e Stuart Hall, sobre os impactos das indústrias na sociedade atualmente globalizada.
2. O fenômeno “Aldeia Global”
Ao contrário do que a mídia norte-americana tanto impulsionou para que os olhos do mundo a enxergassem de tal maneira, o fenômeno de globalização não surgiu na segunda metade do século passado. O processo começa nas Grandes Navegações e se estende nas passagens das revoluções industriais, acompanhando intimamente a evolução do capitalismo (sistema por trás das cortinas do processo mútuo da industrialização e globalização), ocasionando interferência direta na sociedade.
A construção da “Aldeia Global” é a meta para o século XXI e como dizia, apesar das controvérsias de sua vida, o político alemão Karl Liebknecht (1871-1919), “a lei básica do capitalismo é ‘você ou eu’ e não ‘você e eu’” (Disponível em: www.frasesfamosas.com.br).
Enfim, o que define a formação de uma Aldeia Global? Basicamente, os povos de cada nação (aquelas que têm acesso à internet) podem conviver próximos apenas se conectando virtualmente. Não somente se proporciona relacionamentos à distância, com as redes sociais, mas também as redes de notícias são abertas ao público global, desse modo, brasileiros têm contato com o que acontece no Japão e vice-versa; se o mundo já era pequeno, imagine agora com a globalização.
Antecipou-se Karl Marx (1818-1883), sociólogo e revolucionário, mesmo vivendo há séculos de distância: “A indústria moderna estabeleceu o mercado-mundo, a burguesia imprimiu o caráter cosmopolita à produção e consumo de cada país” (Marx, Profeta da Globalização – p.62).
O filósofo conseguiu reproduzir os contornos externos do mundo atual envolvidos em um sistema de “encolhimento” gradual: a aldeia global. Para ele, todo esse movimento constante pode acarretar inflexível instabilidade política e econômica, ajudando sociologicamente a entender os propósitos da extensão dos poderes daqueles que detém capital, trazendo uma boa reflexão a respeito do interesse dessa nova burguesia em encolher o mundo e instigar as pessoas a consumirem excessivamente seus produtos.
3. Consumismo versus Consciência sustentável
Estamos diante de uma sociedade adoecida, anos se passam e as perspectivas dos sociólogos não mudam enquanto a isso: vivemos sob a inversão de valores. Hoje, pouco interessa o conteúdo do produto, o importante mesmo é o status gerado por ele. Afinal, ter um smartphone é mais importante do que comprar livros, ou não? Porém, não só basta adquirir tal tecnologia, mas cada ano trocá-la por uma mais nova. Pessoas não vão ao hospital público, preferem pagar um particular, mas também deixam de pagar o particular, porque o carro do ano foi lançado. Não seria isso um consumo doentio?
Outdoors: mais marketing, mais publicidade. Shoppings Centers faraônicos: compras de rotina e compras com valor limitado em mãos. Revistas, mídia alternativa e jornais: compras impulsivas sem um planejamento financeiro por trás.
Seria possível existir uma sociedade conscientizada a curar o problema que ela está mergulhada? Há exemplos de organizações independentes que compactuam com a Consciência Sustentável e buscam reduzir os índices de consumismo na Aldeia Global em que vivemos. Por exemplo, o Instituto Akatu, que viabiliza modelos sustentáveis de produção e consumo, e atua no desenvolvimento de atividades em escolas, empresas e comunidades, focadas na mudança de comportamento do consumidor a partir de duas frentes: educação e comunicação.
O “Lowsumerism” e o Consumo Ético são dois métodos de combate direto ao consumismo. O primeiro traz a ideia de mostrar aos consumidores os processos de produção e distribuição dos produtos, identificando se aquele produto é necessário e se agregará algo à vida de quem o adquire. Enquanto o segundo incentiva o consumo necessário.
A filosofia sustentável, como na canção emblemática de Terry Gilkson (1916-1999) – gravada em 1976 – do filme do mesmo ano “Mogli: o menino lobo” da Disney, cujo título evidencia o proposto por estes modelos de educação sustentável: somente o necessário.
Compreender os novos comportamentos de consumo e, quando estes se mostrarem negativos, combatê-los de forma eficiente e construtiva, é determinante para que as pessoas consigam acompanhar os bons produtos do mercado de forma saudável.
4. Hibridismo cultural versus Preservação da cultura regional
De acordo com a doutora em Estudos Culturais, Linguísticos e Literários em Língua Inglesa da Universidade de São Paulo (USP), Maria Elisa Cevasco,
A questão do hibridismo ganha interesses maiores, em tempos ditos globalizados, quando a circulação de ideias e de produtos culturais atinge um grau inédito. Para alguns, o mundo de hoje oferece uma oportunidade para a criação de uma cultura globalizada, um novo espaço da convivência da diversidade e do pluralismo culturais. Para outros, trata-se de submeter uma diferença nacional ao rolo compressor do lixo cultural mediático que vem, em especial, dos Estados Unidos (CEVASCO, 2006).
De uma perspectiva positivista, o hibridismo cultural é um câncer benigno à sociedade, que se desenvolve em ramificações culturais e se instala quase que inconscientemente no cotidiano das pessoas. Não há quem fuja desse evento, pois ele está injetado nas tecnologias, na alimentação e até nas roupas que consumimos e, nesses tempos culturais instáveis, é de suma importância garantir a preservação das nossas culturas regionais, aquelas que são as primeiras a serem excluídas neste processo.
Em “Diásporas, ou a lógica da tradução cultural” – Stuart Hall (1932-2014), teórico cultural e sociólogo jamaicano, afirma existir “um processo de tradução cultural, uma vez que nunca se completa, mas permanece em sua indecidibilidade”, sendo o contexto da hibridização ocorrido como “diáspora” e no processo de tradução cultural, onde indivíduos vivenciam tais eventos ao tentarem se adaptar às matrizes culturais diferentes de sua própria origem, sendo um simples processo de ressignificação cultural.
Como sinalizava Bob Marley (1945-1981), “um povo sem conhecimento, saliência de seu passado histórico, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes”. Sem a conservação das culturas locais e regionais, um povo não se ergue, já que foram essas culturas que desenvolveram civilizações ao longo de milênios e acompanharam o desenvolvimento da humanidade.
Na Aldeia Global, a mistura de culturas e a descaracterização de algumas delas (hibridismo cultural), faz com que os nascidos de hoje não as conheçam plenamente ao amanhecer. Em "Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, o narrador-personagem se orgulha por não ter deixado filhos para herdar as mazelas de um mundo doentio. É preocupante a falta de postura em prol da preservação cultural regional, o mundo se enraíza tão facilmente e é gratificante ver culturas entrelaçadas em uma só. Entretanto, por debaixo dos panos, as mesmas são desmatadas e ninguém faz nada para resolver tal problema. Talvez, por menos desmatamento cultural, tão logo seja necessário fazer “cocô” dia sim, dia não.
5. O êxodo rural e a desigualdade social
A migração constante de trabalhadores rurais em busca de melhores condições de vida nas cidades urbanizadas vem de dois polos diferentes. O primeiro, a industrialização rural, onde máquinas exercem um fundamental papel para os latifundiários, mas que acabam ocupando o espaço do trabalhador. O segundo, a mídia fabulosamente indica os privilégios do povo urbanizado em facilmente conquistar seus objetivos financeiros. Como bem evidencia o geógrafo Wagner de Cerqueira e Francisco,
O desencadeamento do êxodo rural é consequência, entre outros fatores, da implantação de relações capitalistas modernas na produção agropecuária, onde o modelo econômico privilegia os grandes latifundiários e, a intensa mecanização das atividades rurais, expulsa os pequenos produtores do campo (FRANCISCO, 2006).
O trabalhador rural chega à cidade à procura de emprego e não consegue. Aumentam-se então os índices de desigualdade e desemprego.
(...) O êxodo rural é uma modalidade de migração caracterizada pelo deslocamento de uma população da zona rural em direção às cidades, é um fenômeno que ocorre em escala mundial (FRANCISCO, 2006).
O impacto das máquinas pelo olhar social é prejudicial, já que gera desemprego para uns. No entanto, a relevância se mostra na produtividade.
De acordo com dados de junho de 2017 publicados pela ONU (Organização das Nações Unidas), o mundo terá 9,8 bilhões de pessoas em 2050, apesar da queda exponencial da taxa de natalidade mundial. Eis a questão: como alimentaremos tanta gente com os campos medievais de produção manual? Simplesmente não seria viável, causaria novamente a busca por máquinas.
Políticas públicas devem ser desenvolvidas com intuito de resolver esse problema, proporcionando subsídios para os pequenos produtores, por exemplo, evitando assim a emigração dos trabalhadores rurais para a zona urbanizada em busca de uma melhor sorte. Enquanto isso, no lado rural do Brasil, pessoas tentam migrar para a perfeita e inquestionável vida urbanizada, a população dessas cidades continua sofrendo os impactos da industrialização. Não somente o consumismo, hibridismo cultural e todas essas mudanças comportamentais, mas também a desigualdade social.
Os índices de Gini – instrumento matemático para calcular a desigualdade social – do Brasil é um dos piores do mundo. Apesar da sua leve declinação a partir da metade da década de 1990, as melhorias continuam reduzidas. Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2010, o coeficiente de Gini geral do Brasil era de 0,533. Lembrando que os números obedecem a uma escala que vai de “zero” (sem desigualdade) até “um” (com desigualdade máxima). Ou seja, os números do nosso país são bem distantes dos primeiros colocados, como Hungria (0,244), Dinamarca (0,247) e Japão (0,249). Conforme o Banco Mundial, o Brasil ocupa a 115° posição dentre 127 países avaliados. E pensar que “Erradicar a pobreza e a marginalização, e reduzir as desigualdades sociais e regionais do Brasil” (Art.3° inc. III – Constituição Federal de 1988) é o terceiro objetivo fundamental da nossa República.
É importante destacar que essa disparidade não é algo recente. Está intimamente ligada com a relação de poder de uns indivíduos sobre os outros. De acordo com estudos realizados por arqueólogos britânicos das universidades de Bristol, Cardiff e Oxford, esse problema é detectado desde o período neolítico. Ao olharmos para o contexto histórico brasileiro, o processo desigual tem início fortemente com a invasão portuguesa e consequente exploração dos indígenas, além da escravização dos africanos. Observa-se então que as discrepâncias na organização social acompanham a humanidade há séculos, e diante do atual cenário político e econômico de muitos países como o Brasil, pode-se dizer que continuará por tempo indeterminado.
6. Conclusão
Ao fim do trabalho, pode-se concluir que as pesquisas realizadas ampliaram o conhecimento e forneceram informações importantes para entendermos o coeficiente da equação (onde se há a soma da “industrialização” com “globalização”) que são as mudanças comportamentais de um povo, as quais na maioria das vezes são induzidas pela mídia ou são inconscientemente impostas pelo Estado ou por empresas.
Percebe-se que, de acordo com os dados apresentados ao longo do artigo, o mundo atual em que vivemos, ou a Aldeia Global, está em uma posição instável, já que tudo depende da nova geração, a mesma adoecida pelas influências da industrialização, do desenvolvimento do marketing e políticas de publicidade das empresas que definem metas para unicamente alcançar os lucros desejados.
Desse modo, o consumo ético e sustentável deve ser conscientizado; o hibridismo cultural deve ser mantido, mas as culturas regionais e locais devem ser preservadas tanto quanto; o problema do êxodo rural deve ser solucionado, principalmente pelas vias do Estado, trazendo melhoras de vida no campo, assim precavendo-se de os trabalhadores buscarem por qualidade de vida nas cidades; e por fim, todas as formas de desigualdades devem ser combatidas veementemente pelas autoridades.
Diante dos resultados da análise do cenário brasileiro atual, é necessário saber utilizar as ferramentas proporcionadas pelas indústrias e que foram injetadas na sociedade ao longo de décadas, que geraram o aumento do processo de globalização, de forma consciente, adequada e saudável para que possamos alcançar nossos objetivos e construir um mundo melhor.
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